Quando falamos de gravidez e bem-estar, é impossível não falarmos também de Saúde Oral. Longe dos mitos do passado, hoje sabemos que uma boca saudável é muito importante para uma gravidez tranquila.
Ainda hoje é muito frequente as pacientes gestantes evitarem consultas no dentista….
A procura de consultas de medicina dentária durante a gravidez por vezes pode estar condicionada, normalmente por vários fatores:
- Inseguranças quanto à indicação dessa prática (Rx, hemorragia);
- Baixa perceção das necessidades (desinteresse, comodismo, conformismo);
- Fatores psicológicos (medo, emotividade);
- Fatores socio económicos;
- Condicionamentos locais.
No entanto a gravidez é um período muito importante para a prevenção, tratamento e aconselhamento médico dentário pois geralmente as pacientes gestantes estão bastante recetivas para adoção de novas e melhores práticas de saúde oral e conhecimentos.
Qual é o momento oportuno?
De um modo geral, considera-se que a melhor altura para intervir é o segundo trimestre de gestação, mais especificamente entre as 14 e as 20 semanas.
É possível a realização de tratamentos dentários urgentes em qualquer fase da gestação, porque o stress gerado pela dor e o risco de disseminação de uma infeção, não tratada, podem trazer bem mais prejuízos para a mãe e para o bebé em comparação com o não tratamento.
Por isso: o ideal seria diagnosticar e tratar as doenças periodontais antes de engravidar. No entanto, o tratamento é seguro durante a gravidez.
Por outro lado, se o tratamento for opcional e perfeitamente adiável, então será preferível aguardar pelo final da gravidez.
Quais são as alterações observadas durante a gravidez?
- A gestante sofre um aumento dos níveis hormonais, que resulta num aumento da vascularização e da permeabilidade dos capilares sanguíneos (mais sujeita ao sangramento);
- Alterações imunitárias e microbiológicas;
- Diminuição do pH salivar.
Todas estas alterações, aliadas às alterações alimentares (consumo de alimentos com maior teor cariogénico) e aos hábitos de higiene oral (o sabor das pastas dentífricas muitas vezes é incomodativo, devido aos enjoos na gravidez, bem como o reflexo de vomito apresentado ao higienizar as regiões mais posteriores, dificulta a frequência da escovagem), leva a uma resposta inflamatória exagerada das gengivas!
Isto não significa que, apesar destas alterações existentes, a gravidez irá estragar os seus dentes! É um mito muito enraizado na população!
Truques para escovagem dentária sem enjoos
- Não passar a escova por água antes da escovagem. A água intensifica o sabor presente nas pastas dentífricas;
- Não tenha pressa. Se estiver a sentir dificuldade na escovagem não necessita de o fazer nesse momento. Aproveite alturas em que se sinta melhor para fazer a sua higiene oral.
- Incline ligeiramente a cabeça. Curvando a cabeça ligeiramente para baixo, poderá diminuir as náuseas sentidas, devido à acumulação de saliva na zona da garganta.
- Se o motivo da sensação de mal-estar ao lavar os dentes for o sabor ou o cheiro da sua pasta dentífrica, dentro das recomendações do seu médico dentista, procure soluções idênticas, mas que sejam mais do seu agrado. Em último recurso, a escovagem, sem nenhuma pasta por intolerância da grávida, é melhor do que a não escovagem total;
- É aconselhável a utilização de uma solução neutralizadora para bochechos após vómitos. Não faça a escovagem logo de imediato, espere cerca de 30 minutos.
A gravidez não causa doença periodontal, mas esta, se existir, pode piorar na gravidez!
Sabia que cerca de 15% das grávidas apresenta periodontite?
Sabia que grávidas com diabetes gestacional, ou diabetes já pré-existente, está associada a um risco aumentado de doença periodontal?
- Mais comum entre os 20 anos e os 40 ;
- Mais frequente no 2º trimestre;
- Normalmente regride até ao parto, se houver boa higiene oral. Em caso de não regressão e presença de sintomatologia (sangramento, ulceração e interferência com a mastigação) a excisão cirurgica é o tratamento ideal;
Importante lembrar:
Uma grávida com má saúde gengival pode apresentar um risco maior de sofrer de:
– Pré-eclâmpsia;
– Dar à luz prematuramente (antes das 37 semanas );
– Dar à luz uma criança com baixo peso (2500 gramas).
O que posso fazer?
Como em todos os casos, também durante a gravidez é essencial adotar bons hábitos de higiene oral e consultar regularmente o seu médico dentista (aproximadamente 1 consulta por cada trimestre).
Se o fizer, poderá monitorizar a sua saúde ao longo do tempo, com a ajuda de profissionais.
Não se esqueça de ter consigo o boletim da grávida (livrinho verde) no dia da consulta!
Referências:
- Pisco R. Doença Periodontal como fator de risco na gravidez: Partos prematuros e recém-nascidos de baixo peso à nascença. [Internet]. Universidade de Lisboa. 2012 [citado 8 de março de 2024]. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/26676/1/ulfmd07039_tm_Rita_Pisco.pdf .
- Balbino R. Doença periodontal na gravidez. [Internet]. Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz. 2015 [citado 8 de janeiro de 2024]. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/11805/1/Balbino%2c%20Raquel%20Rodrigues.pdf
- Saúde Oral e Gravidez. Ordem dos Médicos Dentistas. [internet]. Porto; 2024 [citado a 7 de março de 2024]. Disponível em: https://www.omd.pt/publico/doencas-periodontais/saude-oral-gravidez/ .
- Guia de Saúde Oral Gravidez. OralMed Medicina Dentária. [internet]; 2019 [citado a 7 de março de 2024]. Disponível em: https://www.oralmed.pt/sites/default/files/2019-03/21.03.2019%20-%20Gravidez.pdf .
- Boletim de Saúde da Grávida. Casa da Moeda. [internet]; 2024 [citado a 8 de março de 2024]. Disponível em: https://loja.incm.pt/products/impressos-boletim-de-saude-de-gravida-1026081 .